Total de visualizações de página

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Mais um tiquinho de Cuba, postagem incidental...


Já falei um pouco sobre minha viagem a Cuba em um post anterior, cujo assunto principal era uma distinção despretensiosa sobre Viajantes e Turistas.

Como há pouco eu me pus a comentar um vídeo postado por uma conhecida, no Facebook, acabei por gostar do que escrevi, pensei em dividi-lo aqui e enriquecer o blog um pouquinho, com mais um relato-pedacinho-do-mosaico-do-mundo-afora.

Pra contextualizar, o vídeo era uma jornalista (cheia de figuras de coxinhas de frango editadas sobre sua imagem, hahahahaha) e um cubano sendo entrevistado no Programa Roda Viva, TV Cultura. Nada demais. Foi editado de forma a enfatizar a resposta irreverente do entrevistado em detrimento da pergunta simplista da entrevistadora. (Ao meu ver, tudo ali foi simplista, mas divertido, de certa forma).


Enfim, to cut a long story short, vou usar meu comentário pra falar um tiquinho sobre Cuba. Ilha caribenha tão linda e propagada nos discursos pró e contra qualquer coisa política que to sem saco pra descrever... mas que todo mundo sabe sobre. 

"oi S., assisti ao vídeo com certa curiosidade... Não sou de nenhum partido, seja ele de

esquerda nem ao menos de direita, mas minhas ideias e crenças se identificam ao que se 

convencionou chamar de "esquerda", com ressalvas à cacoetes políticos. Estive em Cuba.

Viajei a ilha de norte e sul e do sul ao norte. Por terra. Como o transporte era escasso e

precário, viajei de carona, de ônibus, táxis clandestinos e até na carroceria de caminhões 

(um deles, de bagaço de laranja, que me deixou perfumada por dias! hahaha). Vi fome, vi 

dificuldades, vi opressão. O que percebi, pelas dezenas de pessoas que tive a chance de

conversar, é que, quem não tem alguma atividade no "mercado negro" ou não tem

parentes que mandem recursos do exterior, passam, sim, por apertos sérios. As "rações" 

que são distribuídas mensalmente a todos os cubanos são uma piada. Insuficiente e pobre 

em variedade. Ví com meus próprios olhos. As pessoas tem medo de falar uma palavra 

sequer contra o governo, porque há ouvidos delatores por toda a parte. Uma amiga médica,

triste com sua situação de trabalho, só desabafava comigo ao longo da praia, com muito

vento pra dissipar qualquer palavra que pudesse sair mais alta... Principalmente os mais

velhos, saudosos da revolução, mas envergonhados de dizer um "a" contra o regime, são 

os que mais sentem a pobreza disfarçada de igualdade. Não raro eles se aproximam, 

delicadamente, e aceitam o que você tiver pra compartilhar, seja um pedaço de pizza ruim

ou um refresco. Sejam uns pesos ou uma fruta. São frágeis, carentes, e um bocado

desamparados. O que acabou ficando de positivo em minha viagem, foram as recordações

de boa música e de dança solta em qualquer boteco, de norte a sul do país. Tradição que

me fez sorrir. Mas não foi suficiente pra me fazer querer voltar. Fica meu pequeno relato

. Não gosto de ideias pre-concebidas nem de uma nem de outra direção. Não quero ser

chata, mas senti que o vídeo foi bem pobre em informações. Pareceu-me um pequeno

escárnio contra a jornalista, que tampouco soube se colocar de forma inteligente.

Discussões sobre Cuba acabaram se tornando uma bandeira a favor da esquerda. Mas

acho que tornou-se um argumento muito pequeno. Aquilo lá, definitivamente, não é

bandeira pra ninguém. No entanto os cubanos seguem sendo um povo lindo, cheios de

talentos, alegres, fortes. A humanidade em nós está acima dos regimes que nos formatam

a alma,esta incorrigível, graças a deus. Abraço grande!