Total de visualizações de página

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Pequeno manual nonsense do Português de Portugal.



Muitas pessoas gostam de fazer comparações entre o português bem lusitano e o nosso, safado, desviado, reinventado. ´Ah, quando fui à Portugal eu mal os entendia, preferia falar em inglês com eles`, disse-me uma conhecida. Achei um pouco de exagero e dei risada. Outra que ´está a morar cá´, como eles dizem (escrevo esta crônica aqui do Alentejo), disse ter tido dores de cabeça nas primeiras semanas de tanto se esforçar para entendê-los, já que por estar trabalhando, não podia perder detalhes que lhe seriam caros em sua comunicação com clientes e superiores. 
Confesso que tenho meus problemas em interpretá-los, muitas vezes. Não raro entendo coisas tão absurdas que chega a irritar meus amigos quando eu digo o que entendi. Mas mesmo no Brasil eu tenho um pouco deste problema, hahaha. Acho que é uma combinação de um pouco de surdez (não diagnosticada) com o fato de eu ser bem desligada e até um pouco criativa nas minhas interpretações. Pra que se limitar, hã? Há sem dúvida, uma enorme diversidade de sotaques aqui dentro. O do norte me soa mais difícil de entender. Parece-me mais fechado e arrastado. O daqui do Alentejo é bem cantado, eles repetem algumas palavras de modo que soem como interjeições : ´Ai eu, ai eu!`. É divertido, a meu ver, mas bonitinho também. Sei que língua e identidade cultural, nacional e sócio-econômica estão diretamente ligados e não tenho a menor intenção em ´caçoar´ dos portugueses e dos seus sotaques. Não mais do que eles mesmos o fazem, hahaha. Há programas humorísticos em que os atores imitam sotaques simplesmente impossíveis de se decodificar. São os extremos, obviamente. Mas se não me engano, também houve um filme brasileiro recente que foi lançado com legendas em português, não? Quanto aos sotaques do Açores e da Madeira, ainda não encontrei ninguém nesta viagem. Mas lembro-me de quando morei em Londres, não raramente eu me punha a ouvir pessoas do mundo todo conversando nos trens do metrô e demorava muito a reconhecer que era minha própria língua falada pelos imigrantes destas ilhas. Há um vídeo impagável no youtube que explica o sotaque do Açores para os portugueses do continente. Entre inúmeras diferenças citadas, minha favorita é a maneira dos açorianos chamarem refrigerante: ´água d´arroto´. O vídeo está intitulado: Os Açores explicados aos continentais.
Enfim, pra fazer justiça ao título desta crônica, vamos a uma breve lista de diferenças do léxico lusitano e do tupiniquim. 
Aqui banheiro é casa de banho e privada é sanita. Tomar um café é tomar uma bica. Quando você espirra, diz-se santinho! e se você for mulher, santinha! Academia de ginástica é ginásio. E a expressão muito usada para os estrábicos que tem ´um olho no peixe e outro no gato´, aqui tem o equivalente em ´um olho no burro e outro no cigano´, pra se ver o nível de confiança nos mesmos... Pinto, o órgão reprodutor masculino é pila. Ou pilinha, dependendo do dote do rapaz, hahaha. Ônibus é autocarro e trem é comboio. O verbo ´saber´ tem vários usos, dentre eles ´parecer-se com e ter gosto de´. Portanto se alguém diz que algo ´sabe a banana´, quer dizer que tem gosto de banana. Rata é um nome bem feio pro órgão reprodutor feminino, e broche é um nome bem feio pra sexo oral. Hahaha, quem não gosta de aprender besteira em outras línguas? Mesmo que esta língua seja a sua! Um puto, é um menino, criança, mas uma menina não é uma puta, somente menina mesmo. Ou miúda. Tomar uns copos é a expressão mais usada para tomar algo em um barzinho ou restaurante. Rabo ou cu é a nossa ´bunda´, ou melhor, a de vocês, a minha não. E não tem nenhuma conotação pesada. Se a pessoa tem o cu largo, ela tem a bunda gorda. Ai,agora eu fiquei um pouco em dúvida com estas palavras... de tanto tirar sarro destas diferenças eu acabo me confundindo às vezes e meus amigos já estão dormindo e eu não posso tirar dúvidas com eles...Bem feito pra mim, que tiro sarro de tudo e me confundo no final. Qualquer coisa eu publico uma errata depois... Não importa. Minha credibilidade não é das melhores mesmo hahaha e isto é uma crônica e não um tratado linguístico. 

Mas eu gostaria (aqui eles não usam o passado do pretérito, mas falam ´eu gostava´ao invés de ´eu gostaria´) de terminar com as gírias lusas: giro (ou gira, ou até mesmo o superlativo giríssimo\a). Fixe. Porreiro ou porreira. Pronto. Basicamente as gírias portuguesas para legal, bacana, interessante, belo, gostoso, divertido, etc etc etc são essas mesmas. Giro, fixe e porreiro. De vovozinhas à crianças bem pequenas... já ouvi todos usando estas gírias. E, ao que me consta, elas são bem antigas. Gosto de pensar que Pedro Álvares Cabral já comentava sobre as terras que avistava das caravelas Santa Maria, Pinta ou Nina, não sei, porque isto é irrelevante: ´Olhem que terras mais porreiras,ó, pá!´. E, posteriormente, Pero Vaz de Caminha teria escrito em suas cartas descrevendo o Brasil: ´Aqui são terras de pessoas muito fixes, que andam com suas vergonhas de fora, balangando ao vento, mas que aceitam trocar quinquilharias sem valor, por ouro, muito ouro, inxalá, que eu acho é giro!´. 

Portugal é fixe. Pra praticar mais um pouquinho e não correr o risco de me confundir como confundi bunda e rabo, que é um perigo!