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sábado, 15 de março de 2014

“Voyage, travel, and change of place impart vigor” – Seneca


 “Travel teaches toleration.” – Benjamin Disraeli 


 “The World is a book, and those who do not travel read only a page.” – Saint Augustine



 “Travel, in the younger sort, is a part of education; in the elder, a part of experience.” – Francis Bacon


 “If you wish to travel far and fast, travel light. Take off all your envies, jealousies, unforgiveness, selfishness and fears.” – Cesare Pavese


”Twenty years from now you will be more disappointed by the things that you didn’t do than by the ones you did do. So throw off the bowlines. Sail away from the safe harbor. Catch the trade winds in your sails. Explore. Dream. Discover.” – Mark Twain

quinta-feira, 6 de março de 2014

Os Piores Banheiros do Mundo - Os Chineses.

          Em um país de superlativos, aonde os maiores, menores, talvez os melhores se reúnem, não é difícil deduzir que também os banheiros se apresentem da mesma forma. São os piores - do mundo! Talvez vocês se perguntem, diante da audácia de tal afirmação, "será que ela cagou ao redor do mundo todo?". Não, meus queridos, mas assim como você simplesmente SABE que encontrou o grande amor da sua vida, você simplesmente SABE que não há como haver algo pior. É uma certeza quase espiritual, absoluta e monolítica. 

         Em primeiro lugar, assim como em quase todos países da Ásia, você tem que se acocorar, agachar-se com as pernas abertas, procurando um delicado equilíbrio, especificamente difícil pra quem tem problemas no joelho, na coluna, ou outro não especificado por ignorância. Em inglês, squat toilet. 

          Então, apesar da super-generalização "banheiro de cócoras", existem sub-divisões que os fazem especialmente peculiares: 

1 - Não existem portas, porque, ao que me parece, defecar, urinar e - qual seria a palavra politicamente correta para 'peidar'?  - e todos os atos escatológicos na China  são de conhecimento público, sem grandes constrangimentos, ou ainda, sem constrangimento algum!

2 - As divisórias entre as valas, ou buracos são laterais e muito baixas. Isto, muitas vezes, faz com que você possa ver a expressão de dor, de alívio ou mesmo de indiferença da sua companheira de atividade. Um estudo antropológico da comunicação não verbal. 

3 - É muito comum que enquanto acocoram-se e aliviam-se, as chinesas (e os chineses também, creio) aproveitem para dar aquela deliciosa escarradinha básica, uma vez que estão ali, sem fazer nada mesmo. Cuspir e escarrar é um hábito amplamente difundido pela Ásia como um todo. Merecem um capítulo próprio, para estes atos, tão ... naturais da espécie humana. 

4 - Nunca há papel higiênico. Nunca. Nunca. Nunca mesmo. Por isto jamais esqueça de levar o seu próprio. Tive o desprazer de me esquecer de levar o meu, logo nos primeiros dias na China e, por estrita emergência, tive que usar meu mapa de Pequim, único papel na bolsa. Assim, só pude navegar metade da cidade, a metade que não foi poluída pelo... desnecessário dizer. 

5 - Há alguns 'modelos' de banheiros em que uma vala comum passa por todas as 'cabines' ao mesmo tempo (palavra aqui usada sem a ideia de privacidade usualmente a ela atribuída). Neste caso você se posiciona lateralmente para a 'porta' da cabine, e vê a nuca da sua vizinha da frente. E não a lateral do rosto, como em outros modelitos mais comumente construídos. Assim, a vala comum permite que, se houver água, esta vá movendo todas obras de arte da pessoa à sua dianteira, ou à sua traseira. (Opa, chega mais pra lá!). Isto vai depender da direção do fluxo da água. Você pode ver, cheirar e, se quiser, até analisar o que a autora da obra comeu no dia anterior. Muito solicitamente, você pode até, caso saiba chinês, lançar o comentário: "Querida, você precisa comer mais fibras!". 

6 - Há os protótipos mais toscos, como os rurais e os de beira de estrada. em que não há água corrente, ou descarga (em alguns lugares há descarga sem água, por sucção, penso eu). Nestes exemplos mais rudimentares não há nem mesmo a louça, mas sim um buraco na terra ou na madeira, como as antigas fossas na fazenda ou mesmo em cidades de outrora. O problema, se é que há somente um, é que estes buracos não são suficientemente fundos, o que faz com que o depósito de dejetos - humanos e não-humanos (papéis, lenços, absorventes,etc etc etc) se acumule e cresça: em direção à você! Parabéns! Você acabou de ganhar o passaporte para o inferno. Estes, sem dúvida alguma, são os piores, já que o odor é insuportável e as moscas se debatem contra suas nádegas, enquanto você tenta desesperadamente se aliviar o mais rápido possível, temendo que alguma delas deposite um ovo bem no meio do seu... âmago. No caso destes banheiros em específico, nunca olhe para baixo, jamais, em hipótese alguma, pois a visão é aterradora e vai te perseguir por noites e noites a fio. Uma vez, na Índia, estávamos em uma espécie de camping à beira da praia. O banheiro coletivo fazia parte desta categoria. Dia e noite, noite e dia, aliviar-se era um suplício. Havia um formigueiro cujo supermercado local era exatamente nossa fossa. As saúvas queriam produtos frescos. Recém chegados do fornecedor local. Acocorar-se, mirar, não borrar as calças, escapar das saúvas assassinas e consumistas tornava-se um balé pitoresco. Parecia uma dança de uma tribo remota, bem remota, cujos passos deixariam seus ancestrais orgulhosos. 

7 - O fedor dos banheiros pode ser sentido muito antes da entrada deles. Às vezes, a inúmeros metros de distância, principalmente quando não há água e o modelito é o descrito acima. Segundo uma amiga, os banheiros chineses não são limpos desde a dinastia Ming e para limpá-los seriam necessárias duas dinastias mais! Portanto, tome suas precauções. Antes de entrar, certifique-se de: a) abrir o zíper, botões, e tudo o que possa restringir os movimentos; b) hiperventilar, o máximo que conseguir, e em seguida prender a respiração e ir com fé; c) levar o papel higiênico na mão, cortado no tamanho e /ou quantidade necessária; d) não beber álcool, se drogar, ou usar nada que altere o equilíbrio e sobriedade; e) dobrar as barras das calças e nunca usar seu sapato predileto; f) olhar bem aonde está o buraco, ou coisa semelhante antes de efetuar o ato e mirar bem; g) se necessário for, cheque duas vezes antes de atirar!

8 - Se tiver que esperar na fila, não adianta hiperventilar. Neste caso, aproveite a paisagem, vendo as chinesas, de frente ou de lado, acocoradas, com cara de tédio, fazendo o que ninguém pode fazer por elas, às vezes lendo ou mesmo fazendo palavras cruzadas. (Creio que Sudoku não seria tão indicado nestas circunstâncias). Não precisa nem disfarçar, elas não se importam. Mas se você for muito tímido ou tímida, espere todos saírem do banheiro para não haver plateia. O que creio ser bem difícil, em um país em que cada porta que se abre parecem sair cem pessoas de cada vez. 

          A arte de defecar e urinar na Ásia. Aprimore-a aos poucos. É praticamente uma meditação. Boa jornada!