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terça-feira, 8 de julho de 2014

Camden Town - Um poema.

Tirei um poema do baú. De quando morei em Londres. E estava apaixonada. Foi escrito no mercado de Camden Town, em algum bar. Por uns instantes apenas, deixo a crônica e descanso na poesia. Pra quem dela não gosta, aguarde a próxima crônica, que ela vem sim.



Flores de madeira
à beira do canal.
Gotas de plástico colorido
segundos de duração diversa.
Não que eu os queira levar a mal.
Meus olhos tudo fitam
- nervoso nervo óptico -
mas em nada repousam.
(procuram um certo olhar,
que tarda, que tarda).
Objetos day-by-day
em texturas mesmas e outras:
cotidiano repensado.
Minhas mãos se divertem
boiando, abrindo, roçando,
mas procuram outras mãos
que escorregam de tão leves,
esquivando-se
e se quebraram.
Minha boca se pretende oca
dura, seca, solta.
Já não procura alguma outra boca.
Morreu... (ou está louca?).
Fica rindo e rodopiando.
Sprayando notas musicais
de um incenso tailandês.
Quero sentir de vez o perfume
daquele colo, que meu braço não alcança.
Em Camden os sentidos se deixam enganar,
a essência é que está intacta e irredutível.
Escorre, sub-reptícia.
Acumula-se,
exalando o nonsense
de uma paixão mal dissimulada.